Por que não me considero um mochileiro?

Agora estarei descrevendo o que são os mochileiros e os motivos que fazem com que eu não me considere como um deles.


Basicamente, um mochileiro é um viajante independente, que organiza suas viagens por conta própria, geralmente utilizando meios de hospedagens mais econômicos e vez ou outra fazendo viagens mais longas, em especial para outros países.

Até aí não há nada demais, afinal, cada pessoa pode fazer o que bem entender da sua vida. O problema mesmo para mim é que muitos desses, em especial os que utilizam os fóruns de viagens, tratam muito mal as pessoas que não seguem o estilo de viagem ou a filosofia de vida deles.

Abaixo estão os principais tópicos que fazem com que eu não seja / me considere um mochileiro:

Menor custo acima de tudo, até mesmo das experiências:


Tentar economizar, seja com passeios ou na hospedagem é algo normal, mas um mochileiro que se preze irá gastar o mínimo possível, mesmo que tenha de sacrificar outras coisas importantes que poderiam enriquecer, e muito, a viagem.

Já vi o relato de uma pessoa que disse que gastou menos de R$ 800,00 para ir e voltar até Foz do Iguaçu, com estes gastos incluindo ainda os da alimentação e do avião, ficando por ali por um ou dois dias. Resumindo: Ao fazer isso a pessoa apenas viu as cataratas do lado brasileiro, deixando de lado uma infinidade de coisas que se poderia fazer por ali e que agregariam muito mais a essa viagem.

Exemplos: Conhecer a Itaipu Binacional, fazer o passeio do Macuco Safári, visitar o templo chinês, descobrir como é o lado argentino das cataratas e também o bar de gelo [na Argentina], fazer compras no Paraguai e por aí vai...

Economizar até pode ser importante, em especial quando a grana está mais curta, mas a experiência que temos em um lugar vale muito mais do que qualquer redução de gasto do orçamento, até porque o valor do dinheiro muda conforme o tempo passa e isso depois não importará nada para ninguém, mas a experiência que você teve no seus destinos poderá ser lembrada até seu último dia de vida.

Exemplo de experiência: Eu e a Luciana de canoa no Rio Cipó [Serra do Cipó - MG].

Vista do alto do Morro da Urca [Rio de Janeiro, RJ].

Se você quiser economizar, economize, se quiser se hospedar em um lugar luxuoso, se hospede. Se der a louca em você e desejar andar de helicóptero ao menos uma vez na vida, por que não fazer isso? Nada te impede, somente seus desejos. Gastar sempre menos talvez não seja a solução quando o assunto é viajar. Faça o que deseja e aproveite tudo do seu próprio jeito, você não é obrigado a seguir os padrões de ninguém.

Detestam Agências de Viagens e tratam mal quem viaja com elas:


Para um mochileiro convicto, destinos de massa nem pensar. Se for utilizando os serviços de guias turísticos para conhecer as coisas através das agências de turismo então, você será considerado um verdadeiro pecador para eles.

Caso esteja conversando com algum mochileiro e diga que viajou com elas, que conheceu qualquer lugar utilizando uma agência de turismo, em especial a CVC, verá que irão te tratar muito mal.

"Enquanto o mochileiro está reclamando, discutindo se o lugar visitado pelo turista é x ou y, o turista CVC está viajando e curtindo a vida!"

Muitas vezes, seja em fóruns ou em seus próprios sites ou blogs, postam coisas do tipo "Você é turista ou viajante", sendo que eles se consideram os viajantes: aqueles que sabem, enquanto o turista é tratado de forma inferior.






Quando não é com imagens fazem isso com palavras mesmo:

- O viajante não faz planos;

- O viajante não tem guia;

- O viajante não foi e não gostou [Pirâmides do Egito? Taj Mahal? Disney? Ele jamais colocará os pés nesses lugares execráveis. Se todo mundo gosta, só pode ser ruim];

- O viajante está em busca da verdadeira alma do lugar em questão.

- O viajante pagou menos que você [na cabeça deles, caso nós, turistas, tenhamos a honra de coincidir nosso caminho com um viajante em determinado local, ele esnobará que pagou menos que você para estar ali] - Notas: Como se gastar mais ou menos dinheiro para fazer alguma coisa fosse algum mérito. Se você tem dinheiro pra isso gaste mesmo, afinal, o dinheiro é seu não é!?

Isso na verdade é uma babaquice e esse próprio conceito de ser Viajante / Turista vai mudando enquanto o tempo passa. Vide o vídeo abaixo para compreender isso melhor:

Vídeo 01:


Obs.: Caso não entenda inglês, clique no símbolo que está logo ao lado da roda dentada para ativar as legendas.

Abaixo estão alguns poucos exemplos de viagens incríveis que fiz utilizando-se dessas mesmas agências de turismo que eles tanto detestam:

- Um passeio mágico no Vale Verde [Sesc-MG]:


- Thiago e Lu no roteiro das Grutas [Sesc-MG]:


- Visitando a cidade maravilhosa [São José Viagens]:


- Curtindo Porto Seguro [Master Turismo]:

- Passeando pelo Vale Europeu [São José Viagens]:

Utilizar agências de turismo para viajar pode ser uma ótima oportunidade para conhecer lugares novos, de forma simples e ainda com conforto e segurança. Normalmente todo o roteiro costuma ser disponibilizado para os viajantes, o que ajuda muito na hora do planejamento. Viajando assim, você gera empregos e ajuda a economia do local [ou locais] que está visitando.

Não é necessário ser mochileiro para viajar por conta própria:


Da mesma forma que você pode usar as agências de turismo quando desejar, nada te impede de você mesmo planejar tudo e assim sair por aí por conta própria. Planeje com alguma antecedência, junte algum dinheiro, tenha cuidado e parta para a sua aventura, economizando quando precisar e gastando mais quando achar necessário. Com certeza serão geradas boas memórias desses momentos.

Eu e a Luciana no topo do Morro do Tabuleiro, com sua bela cachoeira ao fundo.

E aqui ainda vai uma dica importante, pra viajar por conta própria nem sempre é necessário fazer uma longa jornada ou ir até um país distante. Que tal conhecer um lugar próximo ou uma cidade vizinha junto a sua família?

Museu de Arte Contemporânea de Inhotim - MG.

Uma conhecida, minha mãe, Luciana e a mãe dela tirando uma foto juntas em Congonhas (MG).

Desrespeito a quem teve más experiências de viagens:


Uma das coisas mais feias que considero em relação aos mochileiros é o tratamento que eles dão a quem teve alguma experiência ruim em algum lugar e dá o azar de relatar isso para os outros. Para exemplificar isso citarei dois exemplos diferentes:

- Em um, uma pessoa foi para Manaus, na Amazônia, e com toda educação do mundo citou os problemas que fizeram com que ela não gostasse da viagem que realizou. Pronto! Apenas isso já foi motivo suficiente para tratá-la como um cachorro, alguém que não sabe viajar e tals.

- Em outro exemplo, o viajante foi para a Bolívia, sentiu o soroche [mal de altitude] de forma muito pesada, desmaiou e acordou num hospital, ficando lá sozinho, sem a família por mais de 15 dias e ainda sofrendo sequelas terríveis que depois até atrapalharam em seu movimento, de forma permanente. O que vi de gente insultando essa pessoa no fórum, falando que ele não conhecia a Bolívia de verdade, o tratando mal e como lixo foi algo horrível, absurdo e difícil de engolir.

Minha opinião: Não é porque você teve uma boa experiência em um lugar e outra pessoa teve uma ruim por lá, que ela é obrigada a aceitar as coisas como você. Devemos respeitar a todos, inclusive no que elas pensam.

Vida Louca:


Isso acontece em especial com os mochileiros que se consideram raízes, ou roots. Muitos acabam por se demitir de seus empregos, vendendo tudo e largando tudo e todos para trás, saindo por aí sem nenhum planejamento e data de volta, apenas seguindo sua sonhada maravilhosa viagem pela estrada ou pelo mundo.

Se você ainda é jovem, tem boas condições financeiras e é [ou pode ser] sustentado pela família tudo bem, mas para o restante das pessoas, fazer esse tipo de coisa pode trazer consequências irremediáveis para você e para quem você sustenta.

Já vi casos de pessoas que fizeram uma incrível viagem pelo mundo, gastando tudo o que tinham, mas que ao voltarem passaram a ter uma vida medíocre e miserável por não conseguirem se ajustar a nova realidade que estavam vivendo. Talvez não seja bom jogar tudo fora por apenas alguns momentos de felicidade passageira.

Seja inteligente, planeje as coisas, preserve seu emprego e os estudos e faça de cada passeio uma nova aventura, sem precisar de perder tudo que você conquistou em vida, afinal, uma viagem só se torna completa quando também voltamos pra casa.

Dica:

"Sempre tenha data para voltar, a viagem termina, mas a vida segue."

Esnobar pela quantidade de países visitados:


Algo bem comum feito pelos mochileiros é esnobar a quantidade de países visitados, sem considerar para isso o tempo ou a experiência que se teve em determinado tipo de lugar.

Por exemplo, já houve um caso extremo de uma pessoa visitar cerca de 12 a 14 países em apenas 15 dias. Por mais que no passaporte esteja registrado o nome de cada um desses países, pode ter certeza que a imersão na cultura e o que ela descobriu sobre cada um desses países foi algo pífio.

Mais útil e inteligente do que tentar visitar o maior número de países de uma vez na menor quantidade possível de tempo é apenas escolher um ou alguns poucos países [preferencialmente próximos uns aos outros] para conhecê-los melhor e com mais tempo. Pode ter certeza que a experiência será muito mais gratificante e você aproveitará muito mais do que se estivesse indo para uma infinidade de países diferentes em um curto espaço de tempo.

Academia Uruguay, onde estudei no meu intercâmbio.

Praça Independência, Montevideo.

Monumento Los Dedos, em Punta del Este.

Colônia do Sacramento, vista do alto de um Farol.



Nas últimas três fotos acima: Eu me arriscando nos esportes de aventura em Salto del Penitente, no Uruguai.

Um bom exemplo, no meu caso, foi uma viagem que fiz apenas para o Uruguai onde fique por lá por 28 dias estudando o idioma espanhol e conhecendo a cultura do país. Nada te impede também de ir várias vezes ao mesmo país, ou quem sabe, até ao mesmo lugar. Lembre-se: Quando viajamos, não estamos apostando corrida com ninguém para conhecer o maior número de países e destinos possível.

Uma variação desse mesmo tópico é se achar superior por ter conhecido um destino exótico enquanto a maior parte das pessoas costuma visitar destinos mais comuns, como por exemplo a França, Estados Unidos, Itália ou Alemanha.

Paris, França.

Conhecer destinos diferentes ou exóticos não faz de ninguém um viajante melhor ou pior do que você. Se é seu interesse visitar esses destinos, faça, sem pesar, porque com certeza será uma experiência incrível e que irá agregar muito a sua vida.

Ainda referente a esse mesmo tema, podemos citar a tatuagem do mapa mundi com países riscados:


À primeira vista parece algo super maneiro e se dá a impressão de que a pessoa conhece o mundo inteiro, mas ao fazer isso ela deixa de conhecer uma gama de lugares interessantes, que podem estar num mesmo país. Observe o exemplo abaixo:


Se eu visito Moscou [a capital da Rússia] e risco esse país no meu mapa, quer dizer que estou deixando de conhecer todo o vasto território e variedade de culturas e regiões conhecidas do maior país em extensão territorial de todo o planeta.

Assim como Brasil não é apenas São Paulo e Rio de Janeiro; Estados Unidos não é só Nova York, Orlando e Miami; França não é apenas Paris; Argentina não é apenas Buenos Aires, a pessoa que faz isso tem a falsa impressão de ter visitado boa parte do mundo enquanto na realidade isso não foi feito de verdade.

Nas imagens abaixo estarei colocando fotos de algumas cidades da Rússia:

Smolensk:




Ivanovo:




Vladivostok:




Tomsk:




Rostov Na Donu:



Moscou:



Sochi:




Kazan:





Yakutsk:




Yaroslavl:




São Petersburgo:




Caliningrado:




Ecaterimburgo:




E aí! Riscar todo o país por se visitar apenas um único ou alguns poucos lugares ainda parece certo pra você? Ao invés de fazer isso, caso tenha interesse, procure marcar onde visitou por cidades, será algo mais humilde, interessante e condizente com a realidade, e os buracos de espaço mostrarão com clareza os lugares que ainda poderão ser visitados por você no futuro.

Vide abaixo o meu próprio exemplo, da época em que eu estava escrevendo esse texto:

[Mapa de Lugares visitados, Thiago, até novembro de 2018]


Ao analisarmos em termos de Brasil, é possível perceber que visitei pouco o litoral e fui para uma boa gama de lugares no interior do país, em especial no sudeste, nos estados de Minas Gerais e São Paulo, mas que ainda falta muito do sul para se conhecer e que não conheço praticamente nada do nordeste, centro-oeste e norte do país.

Ao observamos em termos de Brasil parece um monte de lugares, não é? Veja agora quando diminuímos o zoom, de forma a aparecer todo o mapa-múndi:


Agora parece que eu não conheço praticamente nada, não é? Isso é ótimo, afinal, eu ainda tenho um mundo inteiro para desbravar e conhecer.

Notas: Vale lembrar que não estou criticando quem gosta de fazer isso, apenas explicitando meu ponto de vista. Também não tem problema nenhum em mostrar para os outros, seja com bandeirinhas ou outras coisas o número de países que você visitou, o que não é legal mesmo, nesse caso, é esnobar os outros como se você fosse superior, seja pela quantidade de países visitados ou pelos destinos que podem ser um pouco menos usuais e exóticos do que o viajante comum.

E para fechar esse post, só falta a parte do repetir o mesmo destino: Se você gosta muito de algum lugar e costuma retornar para ele com alguma frequência, continue fazendo isso, o importante é fazer algo que você gosta, e não o que é socialmente aceito pelas pessoas ou grupos de influência.

Ser superior aos outros viajantes:


Com tudo que escrevi até aqui, acho que já deu pra perceber que esse papo de viajante / turista é apenas uma falácia, em que um usa de argumentos e bobagens falsas para querer crescer em cima do outro, em algo que é totalmente inútil e desnecessário.

Viaje pela diversão, pela experiência, para estudar, para trabalhar, ou pra fazer o que você quer fazer, do seu próprio jeito, sem pressão dos outros ou da sociedade. Viva feliz e se livre desses rótulos idiotas, dados por idiotas, apenas pra eles acharem que são superiores a todos os outros.

Se você gosta de utilizar a CVC ou outras agências de viagens para passear, faça isso, se é o que considera melhor pra você. Se gosta de organizar as suas próprias viagens com os amigos, por que não continuar com isso? Com certeza será muito divertido. Só temos uma única vida e o que fazemos para enriquecer ou melhorá-la com certeza será algo que valerá a pena depois. Não desperdice as oportunidades e viva do seu próprio jeito.

Isso é tudo.


Boa sorte e espero que aproveite bastante das experiências que compartilho aqui nesse blog!

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