Quilombolas de Belo Vale [p2]
Confira agora como foi a 2ª parte de nossa excursão por Belo Vale (MG).
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Sem mais delongas, vamos voltar ao relato...
Sábado [07 de Dezembro de 2019] - Cont.
Diferentemente do Museu do Escravo, que tivemos uma visita guiada. Por aqui ficamos mais livres e não tivemos nenhum acompanhamento inicial.
Parte Interna do Casarão:
Vista do teto de um dos salões do casarão. |
Ainda nesse ângulo essas árvores continuam super imponentes. |
VOZES-MULHERES
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
Fonte Pesquisada:
Após citar o poema algumas pessoas começaram a falar, normalmente sobre problemas da sociedade moderna. Uma das mulheres do grupo, por exemplo, estava reclamando que sua filha mexia apenas no celular e mal costumava prestar atenção numa conversa com ela [sua própria mãe], que comia na mesa junto a ela.
Esse funcionário até chegou a perguntar pra eu e a Lu o que achávamos sobre esse assunto e eu disse algo assim:
Um dos problemas da sociedade de hoje, por exemplo, no caso dos jovens, é que eles vivem de maneira muito consumista, isto é, pra se sentir bem precisam ficar continuamente comprando coisas para se ter um pequeno momento de felicidade, que dura pouco tempo e para achar que continua feliz acaba sendo necessário repetir esse processo, que dura cada vez menos tempo.
Por exemplo, um jovem que quer mostrar para os outros que é alguém importante muitas vezes gasta quase R$ 1.000,00 em um único par de sapatos, que sequer precisa, ou quem sabe, faz viagens mirabolantes apenas para postar no Instagram, sendo que muitas vezes isso não condiz com seus ganhos financeiros reais e para se manter bem nas aparências para os outros ele acaba continuamente se endividando.
[isso eu não citei na roda de conversa, mas a frase abaixo resume e bem o que é o consumismo:]
“Consumismo é o ato de comprar o que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para impressionar pessoas que você não conhece, a fim de tentar ser uma pessoa que você não é.”
Após minha vez a Luciana também falou um pouco sobre a intolerância do brasileiro, e que o problema não estava somente na diferença de raça e problemas com as minorias, e sim que a luta era com o diferente, isto é, mesmo que não fosse possível denegrir a imagem de alguém por conta da sua cor de pele, a sociedade ainda encontraria uma forma de gerar preconceito, seja por conta do físico [maltratar o gordo, o magro, aquele com algum defeito] ou pelo status sociais [fulano é pobre demais, a moça é prostituta, ciclano se veste igual a um trapo, e por aí vai...].
O público do SESC que estava conosco nesse passeio era razoavelmente mais velho do que nós [a maioria tinha mais de 50 anos] e acredito que eles ficaram bem concentrados no que estávamos falando.
Depois disso o moço pediu para escrevermos de três a cinco palavras em um papelzinho para que pudéssemos tentar criar uma espécie de mini-poesia. Minhas palavras:
Porém não conseguimos desenvolver mais o assunto porque nosso tempo por aqui havia se esgotado. A guia o SESC reuniu todo mundo na escadaria do casarão [dessa vez estavam todas as pessoas da excursão] e pediu para que os funcionários tirassem uma foto nossa.
Primeiro normal:
A Comunidade Quilombola Chacrinha dos Pretos teve sua origem no início do século XVIII, sendo local de refúgio dos descendentes de pessoas escravizadas da região. A comunidade já passou por várias situações de conflitos de terras, opressão, mas também de resistência negra.
Reconhecida como comunidade quilombola pela Fundação Palmares no ano de 2.007, o nome do local vem de uma pequena chácara que existia na antiga fazenda. O termo “dos pretos” foi difundido pela população urbana branca de Belo Vale, quando se referia aos moradores da Chacrinha, referindo-se aos descendentes de escravos negros que ali viviam desde os tempos da escravidão.
Fontes Pesquisadas:
Guia de Roteiro do SESC-MG
http://www.camaramoeda.mg.gov.br/chacrinha-dos-pretos-belo-vale/
Como o pessoal já estava bem agitado porque muitos de nós estávamos sentindo muita fome, a moça foi esquentar a comida que seria servida pra nós daqui a alguns instantes. Nesse meio tempo aproveitei para tirar algumas fotos, evitando fotografar a parte da cozinha e também a área interna da casa.
Passado mais algum tempo finalmente chegou a hora do almoço, que convenhamos, deixou o pessoal super irritado por conta da carne, que basicamente estava formada por restos de ossos [de pescoço, pé e costela de frango] e algumas coisas super engorduradas. Eu praticamente não peguei nada da carne porque achei as panelas delas muito feias e sujas. No meu prato coloquei arroz, feijão, tomate, angu e ora pro nobis.
A guia Conceição também chegou a citar que provavelmente essa moça tinha servido a família dela primeiro e com o resto que sobrou é que ela serviu o pessoal do nosso grupo, o que não se justificava, já que ela soube com antecedência que estaríamos vindo visitar essa comunidade nesse dia e nesse horário em específico.
Enquanto fazíamos a digestão ficamos conversando com as pessoas a nossa volta. A Lu ficou muito feliz porque descobriu que várias das moças da nossa excursão eram professoras ou pedagogas. Uma delas havia trabalhado na FEBEM até se aposentar e depois voltou a dar aulas no sistema regular de ensino. O papo foi fluindo bem, até que em determinado momento a guia Conceição e a moça do quilombo resolveram nos levar até as ruínas da chacrinha, que estava a poucos metros dali. Seguimos até lá a pé até chegar nesse local.
Vide agora como foi sua cantiga...
Vídeo:
Quando ela terminou disse que poderíamos entrar na parte interna das ruínas da chacrinha.
Aqui o pessoal foi reunido e se sentou em alguns troncos, onde ficamos ouvindo ela contar sobre a história da comunidade, que foi bem difícil, tanto na época da escravatura quanto nos dias de hoje. Ela informou que no passado eles chegavam a passar até fome, que a comunidade sofreu muito umas duas vezes por conta de enchentes do rio Paraopeba [que corria perto dali] e que até mesmo um de seus parentes, se não me engano um tio, ludibriou seus próprios semelhantes tentando cobrar a moradia de uma casa que já pertencia a eles de direito por usucapião, mas que, como eles eram muito simples, algumas pessoas caíram nessa lorota porque não conheciam bem os seus direitos [de acordo com ela, negro causando problema para o próprio negro!].
Atualmente moram cerca de 150 pessoas nessa comunidade quilombola. No passado essa região era uma fazenda e chegou a abrigar cerca de 1.200 escravos, mais até do que a Fazenda Boa Esperança, que havíamos visitado antes.
Eis aí um pouco mais da história dessas terras...
Desde os primórdios da constituição dessa comunidade, composta em sua maioria por descendentes diretos de escravos, ela se territorializou no seio da antiga fazenda do barão português José de Paula Peixoto, conhecido como milhão e meio, apelido recebido por causa da fortuna acumulada por este fazendeiro.
Ocupa centralidade simbólica na Chacrinha as ruínas da casa grande dessa fazenda. O Barão tomou por esposa uma de suas escravas e seu patrimônio, não tendo deixando descendentes diretos, ficou para ela. Esta, após a morte do marido, alforriou os escravos, favorecendo, desse modo, a formação da Chacrinha dos Pretos em torno da antiga casa grande.
A comunidade da Chacrinha dos Pretos possui uma história de opressão e resistência muito semelhante à de outras comunidades quilombolas. De todos os lados, o terreno onde vivem, no caso, o da antiga fazenda herdada pela viúva do Barão, foi sendo invadido e tomado por pessoas politicamente influentes que não reconheciam, e muitos ainda não reconhecem, a dignidade e a cidadania daqueles que construíram e ainda sustentam a construção, com intrepidez e teimosia, da comunidade da Chacrinha.
No início do século XX, por exemplo, praticamente o centro do terreno dessa comunidade foi invadido, de forma opressiva e desumana, sem qualquer diálogo, desapropriação ou indenização, para a construção da ferrovia da RFFSA, ramal Belo Horizonte-Rio, que atualmente é administrada pela mineradora MRS.
Como se não bastasse, até os dias de hoje, a comunidade ainda é vítima de preconceitos. Grande parte do território histórico original da comunidade foi ocupada por fazendeiros para produção de eucalipto, de mexerica e para a criação de gado. Suas terras continuam a ser objeto de insaciável cobiça, a ser invadidas e apropriadas indevidamente. Isso acontece, especialmente, por elas não serem demarcadas e nem sua propriedade ser reconhecida pelo poder público.
Durante muito tempo, a comunidade quilombola da Chacrinha dos Pretos teve dificuldade de alimentar os horizontes de esperança para um futuro melhor, sobretudo, para as novas gerações. Muitos jovens, por falta de perspectivas, acabaram deixando a comunidade.
De fora, vários moradores de Belo Vale olhavam para a Chacrinha, com certo desdém, como um lugar improdutivo. Depois de bastante luta, persistência, superação e criatividade, com o apoio de líderes da Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale, APHAA-BV, formou-se a Associação Comunitária da Chacrinha, ACC.
Em seguida, conseguiu-se identificar e mobilizar os moradores para buscar melhor qualidade de vida e soluções para os desafios da comunidade. Assim, em 2.009, conquistaram a aprovação, junto à Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, do primeiro projeto cultural denominado “Ponto de Cultura Quilombo Chacrinha”. Esta conquista proporcionou inúmeros outros passos, tais como o “Projeto Ação Griô Nacional”, do Ministério da Cultura, que propiciou muitas ações no Quilombo Chacrinha.
Fonte Pesquisada:
Ela contou ainda que, apesar dos problemas que ainda existem, a vida na comunidade melhorou muito se comparado à antigamente e que atualmente eles possuem um bom prefeito, que sempre que pode os ajuda, que vão abrir uma escola quilombola, onde os alunos receberão a educação da rede regular de ensino e ainda terão em sua grade um pouco mais da cultura e tradição quilombola, que conseguiram uma quadra e que pretendem ampliar seus projetos, passando também a fazer artesanatos [o que seria muito bom, porque na minha opinião ao receber mais de 30 pessoas e não vender nada para elas, seja doces, comidas ou artesanatos eles perderam um dinheiro que seria muito bem-vindo e precioso!].
Antes de sair vi uma moça gordinha do grupo fazendo um tanto de posições legais numa das janelas dessas ruínas [pena que não tirei nenhuma foto!]. Depois ela foi em outra janela e subiu em duas pecinhas de concreto para ficar em pé e tirou mais algumas fotos bem legais. Achei isso bem interessante [na verdade não só eu, como também outras pessoas do grupo que também passaram a fazer o mesmo] e resolvi fazer a minha própria versão disso, nesse mesmo lugar que essa moça foi por último [a Lu não quis tirar nenhuma foto nesse local].
De início eu estava esperando por algo mais mágico, misterioso, como aquelas casinhas enfileiradas de forma circular, como as que havia visto no Museu do Escravo, ou algo mais parecido com uma tribo, mas ao decorrer do passeio, a medida que fui observando as coisas, entendendo as dificuldades enfrentadas por eles e sua história percebi que os moradores do quilombo eram mais gente como a gente, e que na verdade tentaram e ainda continuam tentando se enquadrar cada vez mais na sociedade moderna em que vivemos e desejo que eles possam superar cada um de seus problemas e que com o decorrer dos anos suas vidas prosperem cada vez mais.
Um pouco do caminho de volta...
Cachoeira da região. Algumas pessoas do grupo diziam que essa queda pertencia a uma cachoeira próxima a Fazenda Boa Esperança, lugar que tínhamos visitado a poucas horas atrás. |
Mesmo estando um pouco cansados e tendo de levar uma caixa com requeijão a Lu não quis perder o último dia desse grande evento que ocorreu em Belo Horizonte. |
Em 1.989 foram tímidos 60 stands, com a participação de 200 expositores, e hoje são mais de 1.000 stands beneficiando diretamente 5.000 artesãos de todos os estados brasileiros, numa área de mais de 47.000 m², inclusive com ampliação de tendas nas áreas externas, para comportar os expositores e dar qualidade de visitação aos visitantes.
A 30ª Feira Nacional de Artesanato ocorreu entre os dias 03 e 08 de dezembro, no Expominas. Considerado o maior do segmento na América Latina, o evento deverá atrair cerca de 200 mil visitantes.
Fonte Pesquisada:
https://www.sympla.com.br/30-feira-nacional-de-artesanato__571457
Como comemos bem pouco nesse passeio, seguimos por dentro do Expominas procurando por algum lugar para lanchar. Acabou que fomos para a área de alimentação, onde cada um pediu um tipo de pão com carne diferente. No meu havia pão com pedaços de picanha.
De início, fomos passando pelos estandes e apenas observamos os muitos artesanatos da feira, sejam eles brincos, ornamentos, estátuas, brinquedos, enfeites e os mais diferentes tipos de coisas que a criatividade conseguia criar. Até esse ponto não havíamos comprado nada porque os preços estavam bem caros e totalmente fora da nossa realidade.
Até que certo ponto, após passarmos por dezenas e mais dezenas de estandes encontrei algo bem interessante, uma mini-Aparecida bem brilhante, que comprei para dar de presente para minha vó.
Biscoitos:
Após comprar a última coisa aconteceu algo que achei bem curioso. A própria Lu olhou pra mim e falou algo assim: "Melhor a gente ir embora agora né! Porque se eu continuar eu não vou me segurar e vou comprar ainda mais!" [O orçamento que havia reservado pra feira já tinha explodido quando ela comprou os primeiros presentes e já tínhamos começado a comprar as coisas pelo crédito, pra pagar no outro mês]
Então saímos da feira cheios de sacolas e andamos até a saída do Expominas, ali pedi um Uber no meu celular [que estava praticamente descarregando]. Não usamos o celular da Lu porque o dela não possuía nenhum desconto.
Antes de acabar minha bateria ter morrido enviei um zap pra Luciana com a placa do carro e tivemos sorte, pois após uns poucos minutos o motorista apareceu e pudemos seguir em direção a nossa casa, em Contagem [preferimos não pegar outro coletivo pra voltar porque estava de noite e levávamos conosco muitas sacolas].
Conquistas de Belo Vale:
Boa sorte...
... e até a próxima viagem!
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